sexta-feira, 31 de março de 2023

Os Papas e o jejum da Quaresma.


 Jesus me disse: Minha filha, não tens alguma dificuldade neste retiro? – Respondi que não tenho. A minha mente neste retiro é como um relâmpago. Com grande facilidade adentro todos os mistérios da fé, meu Mestre e meu Guia. Sob o raio da Vossa luz, toda a escuridão se afasta da minha mente. Editora Apostolado da Divina Misericórdia. [Diário de Santa Faustina nº 1772]. Jesus eu confio em Vós.

Ó Coração de Cristo, sarça de penetrantes espinhos. Toda a vida de Cristo até à Sua gloriosa Ressurreição, foi Cruz e martírio, porque desde o primeiro instante, Cristo aceitou o preço da redenção marcado pelo Pai, marcado no Seu plano salvífico. A visão dos Seus sofrimentos redentores foi tão viva que, no Jardim das Oliveiras, Lhe fez suar sangue. Saibamos transformar os nossos sofrimentos em prova de amor.
Os Papas e o jejum da Quaresma

O jejum ainda é muito respeitado e praticado ou já caiu em desuso entre os preceitos da Igreja? No Magistério dos Papas do passado, encontram-se profundos motivos da sua importância no contexto do mandamento evangélico principal

“Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de “devorar” tudo, satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. São palavras do Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma deste ano.

Paulo VI: por que o jejum na Quaresma?
Por que o jejum justamente quando nas cidades onde existe o bem-estar, exatamente como no Advento, os supermercados e centros comerciais expõem provocações alimentares de todo o gênero? Particularmente nesta época nos provocam com ovos de chocolate de todos os tipos, em confecções atraentes e doces típicos das gastronomias locais…onde está o jejum? Onde está a Quaresma? Hoje nos fazemos estas perguntas, inundados pelos excessos, mas já Paulo VI se perguntava em 1978, na audiência geral de 8 de fevereiro.

“E sobre a obrigação do jejum e da abstinência quaresmal, o que restou? Tempos atrás, comprometia muito, era muito severa, chegando quase a ser… ritualizada, agora não resta mais nada disso? Com exceção dos dois dias de jejum, que ainda obrigam os valentes (Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, o “dia longo e amargo”) a obrigação dos anos passados foi retirada da Igreja, sensível às novas realidades e exigências de costumes, mas para os espíritos fortes e os fiéis o que permanece é muito mais digno da nossa atenção, se resume em duas palavras suplementares do antigo jejum: austeridade pessoal, na comida, na diversão, no trabalho… e caridade com o próximo, com os que sofrem, com os que precisam de ajuda, com quem espera o nosso socorro e o nosso perdão. Tudo isso permanece, como permanece também a obrigação da abstinência todas as sextas-feiras da quaresma! Mais ainda, este programa variado, espontâneo e nem sempre fácil exige nossa opção, nosso esforço (sacrifício é como chamam as crianças), nossa austeridade. Somente a austeridade faz forte e autêntica a vida cristã”.

João XXIII: o jejum não é apenas o de comida
Portanto o jejum não é apenas o de comida. Abster-se da comida ou do excesso de comida, traz consigo muitas outra coisas… Recorda João XXIII na sua radiomensagem para a Quaresma de 1963:

“Eis aqui como, com a instituição da quaresma, a Igreja não conduz simplesmente seus filhos ao exercícios de práticas exteriores, mas a um compromisso sério de amor e de generosidade para o bem dos irmãos, à luz do antigo ensinamento dos profetas: Acaso o jejum que eu prefiro não será isto: soltar as cadeias injustas; - adverte Isaías -  desamarrar as cordas do jugo; deixar livres os oprimidos, acabar com toda espécie de imposição? Não será repartir tua comida com quem tem fome? Hospedar na tua casa os pobres sem destino? Vestir uma roupa naquele que encontras nu e jamais tentar te esconder do pobre teu irmão?”.

O jejum traz consigo o compartilhamento, a esmola. Outra palavra chave da Quaresma. 

Mas é João Paulo II que nos dá uma memorável lição sobre o verdadeiro sentido do jejum, na Audiência geral de 21 de março de 1979:
João Paulo II e o verdadeiro sentido do jejum
“Por quê o jejum? A esta pergunta é preciso dar uma resposta mais extensa e profunda, para que fique clara a relação à metánoia, isto é, aquela transformação espiritual, que aproxima o homem de Deus. Esforcemo-nos portanto por concentrar-nos não só na prática da abstenção do alimento ou das bebidas — isto de fato significa ‘jejum’ no sentido ordinário — mas no significado mais profundo desta prática que, aliás, pode e deve às vezes ser substituída por alguma outra. O alimento e as bebidas são indispensáveis para o homem viver, disso se serve e deve servir-se, mas não lhe é lícito abusar seja da forma que for. A tradicional abstenção do alimento e das bebidas tem como finalidade introduzir na existência do homem não só o equilíbrio necessário, mas também o desprendimento daquilo que poderia definir-se atitude consumística. Tal atitude tornou-se nos nossos tempos uma das características da civilização e em particular da civilização ocidental. A atitude consumística! O homem orientado para os bens materiais, múltiplos bens materiais, muitas vezes abusa deles. Não se trata aqui unicamente do alimento e das bebidas. Quando o homem está orientado exclusivamente para a posse e o uso dos bens materiais, isto é, das coisas, então também toda a civilização é medida segundo a quantidade e qualidade das coisas que se encontra capaz de fornecer ao homem e não se mede com a medida adequada ao homem. Esta civilização fornece de fato, os bens materiais não só para que sirvam ao homem a exercer as actividades criativas e úteis, mas cada vez mais ... a satisfazer os sentidos, a excitação que disso deriva, o prazer momentâneo e a multiplicidade de sensações cada vez maior”.

“Ouve-se às vezes dizer que o aumento excessivo dos meios audiovisuais nos países ricos nem sempre ajuda o desenvolvimento da inteligência, particularmente nas crianças; pelo contrário, às vezes contribui para lhes deter o desenvolvimento. A criança vive só de sensações, procura sensações sempre novas ... E torna-se assim, sem se dar conta, escrava desta paixão atual. Saciando-se de sensações, fica muitas vezes intelectualmente passiva; a inteligência não se abre à busca da verdade; a vontade fica presa ao hábito, a que não sabe opor-se”.

“Disto resulta que o homem contemporâneo deve jejuar, isto é, abster-se não só do alimento ou das bebidas, mas de muitos outros meios de consumo, como de estimular e satisfazer os sentidos. Jejuar significa abster-se, renunciar a alguma coisa. Porque renunciar a alguma coisa? Porque privarmo-nos dela? (…) A renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é fim de si mesma. Deve apenas, por assim dizer, preparar o caminho para conteúdos mais profundos, de que se alimenta o homem interior".

Bento XVI: o homem interior alimenta-se da Palavra de Deus
E o homem interior alimenta-se prevalentemente da palavra de Deus. Bento XVI recorda disso na Audiência geral de 9 de março de 2011:

“Não jejua verdadeiramente quem não sabe alimentar-se da Palavra de Deus. Na tradição cristã, o jejum está ligado estreitamente à esmola. São Leão Magno ensinava num dos seus discursos sobre a Quaresma: ‘Aquilo que cada cristão deve realizar em todos os tempos, agora deve praticá-lo com maiores solicitude e devoção, para que se cumpra a norma apostólica do jejum quaresmal, que consiste na abstinência não apenas dos alimentos, mas também e sobretudo dos pecados. Além disso, a estes jejuns obrigatórios e santos, nenhuma obra pode ser associada mais utilmente que a esmola que, sob o único nome de misericórdia, inclui muitas obras boas. (…) Santo Agostinho diz que o jejum e a esmola são ‘as duas asas da oração’, que lhe permitem tomar mais facilmente o seu impulso e chegar até Deus".
fonte:https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-04/magisterio-papas-quaresma-jejum.html

Salmos 50 
1.Ao mestre de canto. Salmo de Davi,* T 2.quando o profeta Natã foi encontrá-lo, após o pecado com Betsabé. 3.Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade.

 4.Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado. 5.Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado. 6.Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.* 7.Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado. 

8.Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim. 9.Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.* 10.Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes. 11.Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai. 

12.Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza. 13.De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito. 14.Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa. 15.Então, aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores. 

16.Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.* 17.Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores. 18.Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis. 19.Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar. 

20.Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.* 21.Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas."

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