“...às três horas da tarde,
implora à Minha misericórdia especialmente pelos pecadores e, ao menos por um
breve tempo, reflete sobre a Minha Paixão, especialmente sobre o abandono em
que Me encontrei no momento da agonia. Esta é a Hora de grande misericórdia
para o Mundo inteiro. Permitirei que penetres na Minha tristeza mortal. Nessa
hora nada negarei à alma que Me pedir pela Minha Paixão...” [Diário 1320]. Jesus eu confio em Vós!
Praça São João de Latrão
Quinta-feira, 4 de Junho de 2015
Ouvimos: na Ceia Jesus oferece o seu Corpo e o seu Sangue mediante o pão e o vinho, para nos deixar o memorial do seu sacrifício de amor infinito. E com este «viático» repleto de graça, os discípulos dispõem de tudo o que é necessário para o seu caminho ao longo da história, para estender o Reino de Deus a todos. Luz e força serão para eles o dom que Jesus fez de si mesmo, imolando-se voluntariamente na cruz. E este Pão de vida chegou até nós! Nunca termina a admiração da Igreja perante esta realidade. Uma admiração que alimenta sempre a contemplação, a adoração e a memória. Como no-lo demonstra um texto muito bonito da Liturgia de hoje (4/6/15), o Responsório da segunda leitura do Ofício das Leituras, que reza assim: «Reconhecei neste pão Aquele que foi crucificado; no cálice, o Sangue que jorrou do seu lado. Tomai e comei o Corpo de Cristo, bebei o seu Sangue: porque agora sois membros de Cristo. Para não vos desagregardes, comei este vínculo de comunhão; para não vos aviltardes, bebei o preço do vosso resgate».
Existe um perigo, uma ameaça: desagregar-se, aviltar-se. O que significa, hoje, este «desagregar-se», este «aviltar-se»?
Nós desagregamo-nos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade entre nós, quando competimos para ocupar os primeiros lugares — os arrivistas — quando não encontramos a coragem de dar testemunho da caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança. É assim que nos desagregamos. A Eucaristia impede que nos desagreguemos, porque é vínculo de comunhão, cumprimento da Aliança e sinal vivo do amor de Cristo, que se humilhou e se aniquilou para que nós permanecêssemos unidos. Participando na Eucaristia e alimentando-nos dela, somos inseridos num caminho que não admite divisões. Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as dilacerações e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, sustentáculo para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé.
Além disso, há outra palavra: o que significa para nós, hoje, «aviltar-nos», ou seja, diluirmos a nossa dignidade cristã? Significa deixar-nos contaminar pelas idolatrias do nosso tempo: o aparecer, o consumir, o eu no centro de tudo; mas também o ser competitivo, a arrogância como atitude vencedora, o nunca termos que admitir que erramos, que temos necessidade. É tudo isto que nos avilta, que nos torna cristãos medíocres, tíbios, insípidos, pagãos.
Jesus derramou o seu Sangue como preço e lavacro, para que nós fôssemos purificados de todos os nossos pecados: para não nos aviltarmos, fixemos o nosso olhar nele, saciemo-nos na sua fonte, a fim de sermos preservados do risco da corrupção. E então experimentaremos a graça de uma transformação: seremos sempre pobres pecadores, mas o Sangue de Cristo libertar-nos-á dos nossos pecados, restituir-nos-á a nossa dignidade. Livrar-nos-á da corrupção. Sem o nosso mérito, com humildade sincera, conseguiremos levar aos irmãos o amor de nosso Senhor e Salvador. Seremos os seus olhos, que vão à procura de Zaqueu e de Madalena; seremos as suas mãos, que socorrem os enfermos no corpo e no espírito; seremos o seu Coração que ama os necessitados de reconciliação, de misericórdia e de compreensão.
Deste modo a Eucaristia atualiza a Aliança que nos santifica, que nos purifica e que nos põe em comunhão admirável com Deus. Assim aprendemos que a Eucaristia não é uma recompensa para os bons, mas constitui a força para os mais frágeis, para os pecadores. É o perdão, é o viático que nos ajuda a ir em frente, a caminhar.
Na festividade de Corpus Christi, temos a alegria não só de celebrar este mistério, mas também de o louvar e cantar pelas ruas da nossa cidade. A procissão que faremos no final da Missa seja a manifestação do nosso reconhecimento por todo o caminho que Deus nos permitiu percorrer através do deserto das nossas pobrezas, a fim de nos levar a sair da nossa condição servil, alimentando-nos com o seu Amor mediante o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue.
Enquanto caminharemos ao longo das ruas, sintamo-nos unidos em comunhão com muitos dos nossos irmãos e irmãs que não têm a liberdade de manifestar a sua fé no Senhor Jesus. Sintamo-nos unidos a eles: entoemos cânticos com eles, louvemos juntamente com eles, adoremos com eles. E veneremos no nosso coração aqueles irmãos e irmãs aos quais foi pedido o sacrifício da própria vida em fidelidade a Cristo: o seu sangue, unido ao Sangue do Senhor, seja penhor de paz e de reconciliação para o mundo inteiro.
E não esqueçamos: «Para não vos desagregardes, comei este vínculo de comunhão, e para não vos aviltardes, bebei o preço do vosso resgate».
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