“O que se faz por
amor não é pequeno, ó meu Jesus, visto que o Vosso olhar tudo vê.” [Diário 1310]. Jesus eu confio em Vós!
PENITÊNCIA
PELOS MORTOS
Um meio
de socorrer as almas
Somos
obrigados a fazer penitência se quisermos salvar nossa alma. Só há dois
caminhos para entrar no Céu: o da inocência e o da penitência.
Nosso
Senhor dos adverte: - “Se não fizerdes penitência, todos vós igualmente
perecereis”. Ora, a penitência, além de nos ser necessária, é muito
meritória, e a podemos aplicar em sufrágio das pobres almas do Purgatório.
Tiraremos duplo proveito: nossa santificação e o alívio das almas
sofredoras.
O
sofrimento junto com a prece tem uma eficácia extraordinária para alcançar
de Deus todas as graças. Outrora, vemos na Escritura, quando os Profetas e o
povo de Deus desejavam obter do Céu misericórdia ou graças, entregavam-se
aos jejuns, cilícios e austeridades. Nossa penitência aqui é muito meritória.
Soframos pelos mortos!
“Aliviemos
as almas do Purgatório, diz São João Crisóstomo, aliviemo-las por tudo o que
nos penaliza, porque Deus tem cuidado em aplicar aos mortos os méritos dos
vivos”.
Escreve
Berlioux: “O sofrimento é a grande satisfação que o Senhor pede aos
devedores da Justiça. Logo, soframos pelos nossos mortos, a fim de que eles
sofram menos. Oh! Se
tivéssemos uma fé mais viva, uma caridade mais ardente, que mortificações
nos imporíamos a nós mesmos para libertar nossos parentes e amigos do
Purgatório, eles que tanto nos amaram, que sofreram talvez por nós, e estão
agora sofrendo de uma maneira tão horrível!
Já que
não somos capazes de tamanhas penitências como os santos, tenhamos
generosidade para alguns pequenos sacrifícios. O sacrifício de um prazer, de
uma afeição perigosa, de uma leitura má, de uma vaidade, etc”.
“Escolhei a melhor vítima, aconselha o Pe. Felix, S.J., escolhei-a, sobretudo, no fundo de vosso coração”. “Por aqueles que amais, sacrificai o que tendes de mais caro. Sacrificai-vos a vós mesmos, e que o preço do sacrifício pessoal se torne o resgate do sofrimento”. “Ah! vejo, acrescenta o Padre Berlioux, vejo essas almas felizes elevarem-se para o Céu, nas asas de nossos sacrifícios, de nossas austeridades e sofrimentos!”.
Que
objeto de consolação e de esperança! Ó, meu Deus! Ó, Jesus Crucificado,
fazei-nos compreender o valor do sofrimento!
Aceitação
da cruz pelas almas
A ideia
da penitência dos Santos e das grandes austeridades nos assusta, mas não
podemos oferecer a Nosso Senhor a cruz de cada dia pelos nossos mortos? Quem
não tem a sua cruz?
O
sofrimento é fecundo e vai frutificar além das fronteiras da vida, vai
aliviar as chamas do Purgatório. Nesta vida faz tanto bem e repercute tanto
nas almas! Pois devemos crer que também na outra vida o sofrimento salva e
resgata a dívida das pobres almas da Igreja padecente.
Ouvi
esta página de uma grande alma: “O sofrimento, escreve a admirável Elizabeth
Leseur, o sofrimento atua de um modo impetuoso em nós, primeiro, por uma
espécie de renovamento íntimo, em outros também, talvez muito longe e sem
que saibamos neste mundo o trabalho que fazemos por eles. O sofrimento é um
ato. Cristo fez mais na Cruz pela humanidade do que falando e trabalhando na
Galileia ou em Jerusalém. O sofrimento faz a vida: ele transforma tudo o que
toca e tudo o que atinge”.
“O
sofrimento é um ato”. Que fórmula impressionante! Convém guardá-la. Trabalha
quem sofre bem. Pode salvar almas como o apóstolo da palavra, como o
sacerdote missionário mais ativo e ardente. A grande missionária dos últimos
tempos, o Anjo do Carmelo de Lisieux, pôde dizer e experimentou o valor do
sofrimento pela salvação das almas. “Pelo sofrimento e a perseguição, disse
ela, muito mais que por brilhantes pregações, Deus quer firmar o Seu Reino
nas almas. Nossos sacrifícios, nossos esforços e os mais obscuros de nossos
atos não estão perdidos, é minha opinião absoluta: todos têm repercussão longínqua
e profunda”.
Sim, o
sofrimento tem uma repercussão tão longínqua e profunda que vai até o
Purgatório, vai aliviar os tormentos das pobres almas, vai ajudá-las a pagar
a dívida que contraíram com a Justiça Divina, vai abrir-lhes as portas do
Céu! Há em família tantas cruzes cotidianas, doenças, aborrecimentos, revezes,
tanta coisa que nos vai crucificando todo dia! Por que não aproveitar tudo
isto pelas almas? Ó, meu Deus, digamos na hora da dor, seja tudo por vosso
amor e para o alívio das pobres almas! Se não temos coragem para grandes
penitências, pelo menos aceitemos a de cada dia pelo Purgatório.
Vítimas
pelas almas
Há
muitas almas generosas que chegam ao heroísmo de se oferecerem como vítimas
pelas almas do Purgatório. É um ato heroico e um meio extraordinário que não
podemos aconselhar a todos, mas que só algumas almas generosas com aprovação
do confessor e em circunstâncias especiais o poderiam fazer.
Pertencemos
à família cristã, somos membros de Cristo, somos um com Cristo e em Cristo.
Ele é a cabeça e somos os membros. Ora, em uma família um irmão não pode se
oferecer para pagar a dívida de outro irmão? É o que faz a alma vítima que se
oferece para sofrer pelas almas do Purgatório.
Temos
tocantes exemplos desta oferta generosa entre os Santos.
Quando Santa
Catarina de Sena perdeu o pai, que era um homem de uma piedade edificante,
pediu a Nosso Senhor que o levasse logo, sem demora, para o Céu e que ela se
oferecia para sofrer tudo quanto tivesse ele de padecer no Purgatório.
__“Enviai-me, Senhor, os sofrimentos que deveria padecer meu pai; eu os
suportarei por ele!” Este ato generoso e heroico obteve o Céu para Giacomo —
conta Joergensen. Todos soluçavam na morte do velho e uma alegria imensa
invadia a alma da Santa. Ela mesma colocou no caixão o corpo do pai e, inclinada
sobre aquela face pálida, murmurava: __“Ó, se eu pudesse estar agora onde
estás!”.
Um
sofrimento horrível invadiu a alma de Santa Catarina de Sena. Era uma dor
terrível, acompanhada de uma doce paz. Compreendeu ela que seria a dor das
almas do Purgatório.
Outro
exemplo de vítima pelas almas nos deu esta Santinha ainda há pouco
canonizada, Santa Gema Galgani. Ofereceu-se pela conversão dos pecadores e
pelas almas do Purgatório. Um dia, diz ela, sofri durante duas horas em favor
de uma alma do Purgatório. Tinha a cabeça dolorida, que o menor movimento me
era insuportável. Era terrível! Gema soube que uma religiosa Passionista do Mosteiro
de Corneto estava para morrer. Ela pediu a Nosso Senhor que desejaria pagar
a dívida da Divina Justiça por aquela alma, a fim de que entrasse logo no
Céu. O Senhor ouviu-a. A Irmã faleceu e pouco depois apareceu a Gema, dizendo
estar sofrendo muito no Purgatório. A Santa não teve sossego. Fez toda sorte
de penitência e clamava: __Jesus, salvai-a! Jesus, mandai logo para o Céu
nossa Irmã!
Durante
dezesseis dias consecutivos os sofrimentos de Gema foram incríveis.
Finalmente, chegou a hora da libertação. A Irmãzinha aparece a Gema, livre
do Purgatório: __Sou feliz, vou para meu Jesus para sempre! Agradeceu e
partiu para o Céu.
Contam-se
inúmeros fatos de penitências extraordinárias dos Santos pela libertação das
almas do Purgatório.
São
Nicolau de Tolentino, o Anjo do Purgatório, jejuava e tomava sangrentas
disciplinas pelo Purgatório.
Santa
Margarida Maria fazia o mesmo com uma grande generosidade e heroísmo. Que
disciplinas sangrentas e que sofrimentos pelas almas!
Oferecer algum
sacrifício pelas pobres almas, pelos nossos defuntos queridos é salutar.
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Do
Livro " Tenhamos compaixão das pobres almas " Mons. Ascânio Brandão
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